terça-feira, 22 de abril de 2014

Improvisação de Canções

Olá pessoal,
Mais uma vez aqui no blog.


Para Bruscia, na improvisação de canções "o cliente improvisa letras, melodias e/ou o acompanhamento de uma canção. Os subtipos são solo, dueto e improvisações grupais (...). " (BRUSCIA, 1998, p.125)

·       Falar de improvisação musical é uma coisa que assusta principalmente os leigos. Embora pareça complicado, o princípio da improvisação em musicoterapia é muito simples e natural.

Uma improvisação de canção pode ser desenvolvida a partir de muitos dispositivos, alguns deles já foram citados aqui no blog.

Por exemplo, o canto. Quem já fez aulas de canto sabe que existem diversos exercícios para aquecimento vocal. Existem métodos e técnicas de alguns professores que estão mais vinculados à experiência de improvisação na musicoterapia, pois pensam no indivíduo como um todo. Já outros métodos podem atém bloquear o canto livre e a livre improvisação. Tomemos o primeiro exemplo e seguimos com a referência. Então, uma melodia pode ser improvisada a partir de exercícios, tais como: vocalizes, exploração vocal, exercícios técnicos, variações de um tema conhecido, que podem abrir um canal para a exploração que resultará em improvisação.

Aqui temos, por exemplo, variações do tema Águas de Março pelo grupo UAKTI.




Neste caso, tendo diversos instrumentos para executar a mesma música, podemos encontrar alternativas sobre como variá-la, bem como utilizar instrumentos que correspondam com aspectos da letra, que imitem sons de chuva, de pássaros se referindo às águas ou ao matita-perê, respectivamente. 

Porém, não é possível racionalizar toda a improvisação. O prazer da improvisação raramente vem da racionalização, mas sim da vontade, do desejo e da intuição e, obviamente, isso acontece quando criamos mais intimidade com os instrumentos musicais e com o fazer musical.

O musicoterapeuta além de facilitar a improvisação, dará apoio à improvisação, fazendo acompanhamento e utilizando determinadas técnicas de improvisação que listarei mais adiante, as 64 técnicas de musicoterapia.

Embora, a característica de uma canção seja bem demarcada em termos de ritmo, harmonia, melodia, aqui o caso é improvisação, portanto, podemos transcender um pouco esta característica e entender a criação como experimentação para, se interessante, registrarmos esta improvisação como forma de composição e recreação.

Uma canção geralmente fala de alguma coisa, seja sentimento, política, fato, imaginação, etc. Cada compositor possui um modo próprio de compor, dependendo da afinidade que tem com o instrumento e outros elementos. Na musicoterapia, toda alternativa que favoreça a improvisação de canções, será utilizada. 


Se você está fazendo musicoterapia, é bem provável que se sentirá mais tranquilo em relação ao fazer musical, pois na musicoterapia é imprescindível que ocorra a sensibilização musical, de modo que o instrumento se torne um recurso e não um bloqueio.

A sensibilização musical implica em explorar, perceber, curtir e interagir.

De acordo com a minha experiência e ponto de vista, a sensibilidade ao som e suas conexões são fundamentais. A pessoa que se dirige à musicoterapia irá de ouvidos abertos para a experiência musical, exceto se pensar que precisa saber música.

Eis aqui um vídeo de exemplo. Aos 2:05 minutos uma paciente recentemente diagnosticada com um tipo de câncer, improvisa uma letra sobre o acompanhamento do piano improvisado pelo musicoterapeuta. 


Um texto muito interessante para complementar o papel das canções é da musicoterapeuta Marly Chagas no XV Simpósio Brasileiro de Musicoterapia e XII Encontro nacional de pesquisa em musicoterapia no ano de 2012. O Tema de sua apresentação é “A canção, o cantar e o cantor - uma reflexão teórica” (pág. 28) 

Este texto apresenta através da leitura dos filósofos Deleuze e Guattari as relações da arte com a percepção e sensação do indivíduo e, a possibilidade de transformação como produto desta relação. É um texto muito poético.

E pra finalizar, um Exemplo de acompanhamento de improvisação de canções. Muito legal, muito animado.

Abraços,
Denise

REFERÊNCIA

BRUSCIA, kenneth. Definindo musicoterapia. Tradução Mariza Velloso Fernandez Conde. 2 ed. - Rio de Janeiro; ed. Enelivros, 2000

segunda-feira, 10 de março de 2014

Improvisação referencial

Olá Pessoal,


Dando continuidade ao método de improvisação

·        Improvisação referencial:

É improvisar sobre um elemento não musical, como: sentimentos, ideias, assunto, imagem, pessoa, lugar, evento ou experiência. Aquilo que muitos artistas “fazem” antes de criar uma obra. Aquilo que inspira.

A improvisação referencial é sutil, portanto exemplificar através de vídeos e imagens é um pouco complicado. Nós podemos pensar nas dinâmicas onde podemos induzir tal processo, como por exemplo, uma atividade onde sugerimos a um grupo de indivíduos que cada um desenhe algo num papel sem representar um objeto específico. Depois disso, após um aquecimento, o grupo deverá a partir de um som inicial, interagir com os outros e desenvolver uma música com base neste desenho ou na sensação de desenhar. Trata-se de uma experiência sinestésica.

Retornamos aqui à experiência não musical das experiências musicais. Para relembrar basta clicar sobre experiência não musical

Pois é, o elemento não musical se torna a referencia para a improvisação. Seu ponto de vista é importante, pois, uma vez que podemos considerar que a música não é presente à todo momento,  em todas as coisas, é desta vivência não musical que surge a inspiração para se fazer música, bem como é à partir destas experiências que a música se desenvolve e evolui.

Bem, este assunto pode ser complicado, pois coincide com as questões sobre o que é mesmo música? Por que o homem faz música?

Neste caso, na minha humilde opinião e, a fim de continuarmos com o assunto, a música é resultado da expressão do homem sobre estímulos que este recebe e entende como musicais. Estes estímulos existem na natureza, tanto pelos sons que podemos perceber quanto pelos que não podemos, bem como, por objetos, situações, pessoas, que nos fazem acessar o elemento musical, seja pelo romance, pela raiva, pela surpresa, tristeza, absurdo e etc, ou pelo modo como os animais exploram o som e o ambiente.

Neste caso vale a pena assistir o vídeo da palestra de David Byrne sobre como a música se molda a partir do ambiente e vice-versa.


 clique aqui para assistir



Dá pra falar bastante e é um assunto interessante. Como disse na postagem das experiências não musicais, este assunto vai longe e estará presente em muitas postagens. Principalmente se falarmos de Bruscia, que vem e vai com o mesmo assunto à fim de tornar-lo claro. 

O fato que a música está associada à cultura se mostra nitidamente através desta ótica não musical, como por exemplo: da criação de instrumentos musicais que normalmente são retirados da natureza onde moram e trabalham os homens; do ritmo ser semelhante às atividades que fazem ou ao sentimento que carregam; ao modo de cantar e explorar a sonoridade conforme o ambiente. Neste caso, a postagem sobre as experiências musicais, focando a experiência extramusical e paramusical podem favorecer a compreensão deste tema. 

É isso aí pessoal,
Um abraço e,

Até a próxima

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Improvisação parte 1a


Aprofundamento, indicação e modelos.

Como já vimos, segundo Bruscia (1998) a improvisação é um método pelo qual o engajamento musical implica fazer música através dos recursos disponíveis (instrumentos de percussão, cordas, canto, etc), improvisando melodia, ritmo e harmonia sobre uma canção individual ou em grupo, independente de sua habilidade.

O musicoterapeuta neste caso irá improvisar junto, incorporar a musicalidade, conduzir o grupo/paciente, motivar executando instrumentos, propor um tema ou apresentação de elementos, como imagens, textos que motivem e contribuam para que esta improvisação alcance os objetivos traçados.

Vale ressaltar que os métodos implicam técnicas e que modelos, irão utilizá-los e até mesmo desenvolvê-los conforme o procedimento que lhe convém. Como diz o autor, modelos, abordagens, técnicas e métodos muitas vezes na literatura são tidos como a mesma coisa, porém não é. O modelo diz respeito ao procedimento e muitas vezes a partir dele se desenvolvem e se criam técnicas, mas as técnicas e os métodos são diferentes do modelo, pois estas podem ser utilizadas por mais de um modelo ou abordagem, portanto, atendendo a procedimentos diferentes.

Aqui falarei com mais enfoque nos métodos e técnicas e citarei alguns modelos utilizando vídeos para exemplificar.

Tipos de improvisação:
·        Instrumental não referencial:

Quando o paciente improvisa através de instrumentos musicais  concentrado nos sons e na música.

Apresentarei alguns trechos de um vídeo disponível no youtube sobre o modelo Nordoff Robins.

Falarei mais sobre o modelo em outra postagem. Nesse momento é importante nos concentrarmos na técnica e recursos utilizados.
Para quem não tem acesso ao vídeo neste momento, farei um resumo do que se trata.

Neste vídeo tomei como exemplo a terapia com uma menina autista, que inicialmente apresenta resistências em relação ao som e o fazer musical.

Os musicoterapeutas utilizam técnicas não referencial ao tocarem o piano, enquanto a paciente explora o tambor. O piano está totalmente vinculado ao tambor. Ao mesmo tempo em que incita a criança a tocá-lo, responde a cada toque desta. Trata-se de pergunta e resposta, ação e reação, onde se desenvolve uma comunicação.

Em outro momento podemos observar outro exemplo, onde o musicoterapeuta segura a criança no colo com dois enormes tambores no chão. Quando o outro musicoterapeuta toca o piano, o primeiro segurando a criança faz com que os pés dela batam no tambor junto ao pulso da música, dando a sensação de que a criança está pulando sobre o pulso do tambor na música ou mesmo tocando este. A criança sorri e se agrada com a brincadeira.

Trata-se de uma criança que não anda. Portanto este estímulo corporal dá a sensação do pulso relativo ao caminhar, pular e dançar. Este estímulo leva a criança a sentir a necessidade de caminhar ou pular, pois é uma pré-experiência desses movimentos.

O lúdico aí é muito importante, pois é o tipo de comunicação que desperta na criança a vontade de participar.

Após um período, é possível observar mais interação e inclinação da criança em relação ao falar, pular e andar. Uma vez que os estímulos anteriores a fizeram experimentar algo novo e de forma lúdica.

Para quem tem acesso ao vídeo, identifiquei os minutos onde se podem observar estes momentos.



Nos 4:05 do vídeo, podemos observar a técnica que acontece quando a criança toca o tambor e o musicoterapeuta executa no piano acompanhando seus movimentos.
Como disse anteriormente esta é uma forma de engajamento musical cujo referencial é o próprio som e o objetivo, desenvolver a comunicação e encorajar o movimento corporal, como também podemos ver nos 6:50 minutos do vídeo.

Esta criança inicialmente apresentava uma forte resistência (como o choro) nos 7:44 min. do vídeo. Após 2 anos,  é muito perceptível seu interesse em andar, pular e falar, como podemos notar no início do segundo vídeo. Um progresso que consiste no engajamento musical, ou seja, um processo de familiarização com os sons e com os instrumentos até que isto se torne um brinquedo, uma extensão do físico e do imaginário onde nele se possa apoiar e desenvolver canais de comunicação que levem ao progresso da terapia. Veja os primeiros minutos do vídeo: observando o desenvolvimento da criança.



Aqui o exemplo se refere à criança autista, mas este trabalho de improvisação centrado na música acontece com diversos públicos, em diversos momentos.

Na musicoterapia, qualquer som presente no ambiente está sendo monitorado pelo musicoterapeuta, uma vez que cada um deles tem a potencialidade, no momento da terapia, de promover o desenvolvimento ou de bloquea-lo. Neste caso, a postagem sobre os tipos de experiênciasmusicais poderá contribuir com a percepção sobre os elementos musicais e não musicais que podem influenciar o processo musicoterápico.

 Portanto na improvisação não referencial, a música, a exploração de instrumentos musicais, os sons e suas potencialidades estão em primeiro plano.

Por hoje é só!

Bom final de semana

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Introdução aos quatro métodos de musicoterapia

Olá pessoal, 

Hoje apresentarei brevemente os métodos de musicoterapia.

Como se trata de uma terapia relativamente nova, vale à pena discorrer um pouco sobre os métodos de musicoterapia, que além de ser um assunto interessante por si só, também pode desenvolver mais interesse nas pessoas que buscam algum tipo de terapia ou até mesmo atividade musical que não sejam aulas de música (as quais necessitam de certo esforço e dedicação), e que permitam vivenciar os prazeres e profundidades existentes no meio musical.

A musicoterapia e seus métodos são o conjunto das culturas musicais e de suas experiências, com o toque da contemporaneidade, além de estar habilitada para o tratamento junto às áreas da saúde.

É escutar a vitrola no fim da tarde; cantar umas músicas conhecidas; compor música sem se preocupar com fama, reconhecimento ou dom; é voltar ao passado e descobrir sons, inventar, criar; dançar em roda; bater tambor; reger; reunir colegas em volta do piano; fazer rituais que levam ao autoconhecimento; perceber o som como se estivesse nos primeiros tempos da humanidade; tocar como se fosse integrante do Pink Floyd (rsrrs); vivenciar as raízes e, muitos outros exemplos que variam de pessoa para pessoa.

Os elementos da cultura são rituais responsáveis por preservar a saúde. É possível ver claramente este fato nas culturas indígenas, onde o pajé ou xamã é o responsável por educar e manter a saúde da aldeia e, a falta dele é um grande problema.

A falta de atividades culturais e musicais que promovem a saúde é como aldeia sem pajé. Não basta irmos ao médico para tratar a saúde, ainda mais quando vivemos num tempo em que se fragmentaram demais estas ciências.

Não é difícil encontrar textos que comentem o absurdo das fragmentações, onde existe um médico para tratar do estômago, outro do rim, outro do cérebro, quando não o caso do especialista, para tratar um detalhe específico de cada parte do corpo.

Hoje existe maior intersecção entre as áreas, mas ainda é limitado.

Sendo assim, ao voltarmos no tempo, nos elementos básicos da cultura e das formas de tratamento, encontramos na cultura da manutenção à saúde, a arte. Onde se encontra o ser na sua forma ativa cuidando de si e reconhecendo de modo imediato o que lhe faz bem.

Por hora, como disse no início, falarei sobre os métodos. Apresentarei vídeos, experiências na faculdade, experiências como profissional e também como musicista, pesquisadora, estudante e pessoa que conviveu com alguns músicos e meios musicais.

Abaixo farei uma breve exposição dos métodos e na próxima postagem aprofundarei o assunto sobre Improvisação.

Introdução aos quatro métodos de musicoterapia
Breve explicação sobre os métodos.

Em musicoterapia, os métodos correspondem à forma pela qual o paciente será inserido no meio musical, ou seja, às formas de se fazer e escutar música independente das abordagens (humanista, biomédica, psicanalista ou behaviorista).

As metodologias básicas de interação são Improvisação, Recreação, Composição e Audição.

Segundo Kenneth Bruscia (1998), autor do livro Definindo Musicoterapia que sempre me refiro aqui no blog, cada tipo de metodologia possui características específicas de interação musical, envolvendo diferentes comportamentos sensório-motores, habilidades perceptivas e cognitivas, emoções e, relações interpessoais em cada uma delas. A metodologia vai de encontro com a necessidade.

IMPROVISAÇÃO


RECREAÇÃO

Envolve aprender e executar músicas conhecidas incluindo atividades e jogos musicais, como, por exemplo: folclore, atividades lúdicas e neuropedagógicas, gesticular músicas (músicas infantis). Inclui atividades de execução, reprodução, transformação e interpretação do conteúdo musical existente.

COMPOSIÇÃO

Processo de criação musical que poderá constituir-se de letras, instrumentos musicais, artes plásticas e demais formas de expressão, podendo resultar em registros de áudio e vídeo ou mesmo em obras de arte.

RECEPTIVAS

Esta metodologia tem a audição musical como principal elemento. Esta pode ser ao vivo ou gravada, improvisada ou, que foram compostas no processo terapêutico, etc. Envolve recreação, improvisação e composição, mas com foco na escuta e não no fazer.
Esta experiência terá diferentes características dependendo se o enfoque for físico, emocional, intelectual, estético e espiritual.
As respostas geralmente são verbais ou escritas, mas podem ocorrer outras modalidades de respostas, tais como: dança, artes plásticas ou, encenação.

Próxima postagem:
Improvisação parte 1
Aprofundamento, indicação e modelos.

Abraços

Denise

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Aspectos da musicoterapia no ensino da música

Olá pessoal,

     Nesta postagem pretendo falar sobre alguns elementos do processo de aprendizagem musical que podem ser conversados a partir da musicoterapia e da psicopedagogia musical.

            Para tal, utilizarei como referência o livro “Estudos de psicopedagogia musical (do original Ocho estudios de Psicopedagogia musical)” de Violeta Hemsy de Gainza , educadora musical, psicóloga social, pianista, que foi também presidente da associação de musicoterapia na Argentina e membro da Comissão Assessora da Carreira de Musicoterapia da Universidad de Buenos Aires.

Este livro resume-se em abordar os aspectos principais do aprendizado musical e diagnosticar os problemas do aprendizado.
A autora descreve a complexidade da relação entre homem e música nos processos de escuta e expressão musical, ou seja, um processo de carga-descarga-recarga ou alimentação-expressão-retroalimentação.
No processo de escuta temos, por exemplo: o direcionamento que um sujeito de determinada faixa etária tem para timbres, estilos, o qual revelará tanto sua preferência, quanto afetividade e capacidade motora.
Na expressão (descarga), que é induzida pela recepção musical (carga) completa-se o processo de musicalização, ou reeducação e terapia, quando o sujeito é capaz de emitir respostas frente aos estímulos.

Na musicoterapia, segundo Bruscia (1998), existe um processo de aprendizagem musical quando “o foco é ajudar os clientes a adquirirem os conhecimentos, comportamentos e habilidades necessários para uma vida funcional e independente e, para a adaptação social” onde o principal objetivo é o valor terapêutico do aprendizado, seja para adaptação social, como já foi dito, ou mesmo para ajudar no desenvolvimento de outras funções, como na reabilitação física, neurológica e também, no auxílio da expressão no contexto terapêutico e na vida.
Continuando com Gainza, a “ação musical produz uma descarga individual a nível corporal e/ou psíquico”. (p.29) Ao se expressar, aquele que produz música tende a demonstrar em menor ou maior capacidade determinados elementos musicais, expressão que revelará seu sentido rítmico, harmônico, ou seja, sua sensibilidade musical.
 No processamento do material sonoro, o sujeito está em intensa atividade mental, que ocorre desde a metabolização do material sonoro absorvido até a expressão corporal, sonora e verbal que engendra imaginação e fantasia. Tal processo, nas palavras da autora, constitui um depósito rico e individual de experiência musical que engloba tanto a intracomunicação (comunicação interna) quanto, intercomunicação (que promove vínculo com diferentes pessoas por meio da música).
A autora também aponta que a expressão musical é projetiva, ou seja, elementos da personalidade estão presentes na produção. Portanto, aquele que expressa tanto erros ou capacidades, está em processo de expressão (p. 31) num complexo causa expressiva – ação expressiva – produto expressivo, em que causa e ação acontecem internamente, enquanto produto já se relaciona à transcendência e à autonomia, que diz respeito à singularidade.
Então, esse resumo diz respeito à conduta musical num processo de aprendizagem, que se molda de acordo com a personalidade e estética do sujeito.
Uma vez que o sujeito percebe elementos da música de forma simbólica, de tal modo que esta possa modificar seu estado de humor ou reavivar uma memória de modo intenso, pode ocorrer uma sensação, como diz a autora, de potência ou impotência musical (...) dando origem a sérias e perigosas generalizações: “Não entendo a música” ou “Não posso fazer música” significam, em tal caso, simplesmente: “Não entendo nada” ou “Não posso ou não sirvo para fazer nada”. (p.35)
Já presenciei tal sentimento de incapacidade nas pessoas ou em mim mesma, porque ocorre exatamente o que a autora prosseguirá dizendo: um estado de fusão com a música, pois sendo ela um elemento acessível, em primeiro plano, somente à escuta, pode ocorrer em muitos momentos uma total imersão naquela situação proposta pela música, de tal modo que se perdem os limites entre a mente e a música.
Tal fusão é um perigo também na musicoterapia, onde a experiência musical pode levar o indivíduo a um estado indesejado no progresso da terapia. Tal elemento é assunto nas formas iatrogênicas de aplicação da música em musicoterapia. Mas também, é recurso, para aqueles que precisam trabalhar com o “imaterial”, “impalpável” que os afetam de alguma maneira, seja na condição psíquica ou emocional. É preciso organizar determinados estímulos que recebemos.
A fusão está relacionada também à simbiose estabelecida na relação mãe e filho, a música, estando presente neste contexto, poderá fazer parte de um processo simbiótico que acarretará tanto medos quanto anseios provenientes dos próprios pais. Por exemplo, uma criança é direcionada às aulas de música porque os pais desejariam tocar um instrumento e não puderam, ou porque os pais são músicos e a criança deverá aprender um instrumento musical. Isso muitas vezes gera uma confusão entre o dever e o prazer. Aquilo que poderia transmitir prazer, em realidade passa a ser um dever para satisfazer a vontade de outrem, no caso os pais.
Ainda neste assunto, estas crianças que foram obrigadas, diriam para seus filhos que “não os obriga a frequentar aulas de música” (justamente porque foram obrigados), o que levaria à criança a tomar a responsabilidade de “fazer o que quiser”. Já me deparei muito com essa situação, onde a criança encontra uma dificuldade e os pais deixam por conta da criança decidir se deve continuar ou não. E ainda sendo uma das poucas oportunidades de decidir algo sobre o que quer ou não, música torna-se um dever a menos e, a criança opta por assistir televisão ou jogar vídeo game ao invés de ter aulas de música...
Existem situações onde a criança usa as aulas de música ou mesmo a prática de música para manipular os pais, uma vez que estes gostam de música.
Resumindo esta postagem.
Existe um processo complexo no aprendizado musical. A música, devido sua propriedade ondulatória pode ser confundida com conteúdos psíquicos que afetem o desenvolvimento do indivíduo. No aprendizado musical e na vida do músico profissional e amador, podem existir dificuldades relacionadas à fusão entre sujeito e objeto música, estando o indivíduo incapaz de manipular, modificar e controlar o objeto de trabalho, limitando-o a determinadas ações, sejam motoras ou cognitivas. Para o professor ou escola de música, é importante saber e explicar para os pais que muitas vezes uma dificuldade está associada a uma confusão relativa à vontade do aluno, mas que isso não deve contrapor a permanência deste aluno nas aulas e o ganho que o mesmo poderá ter na sua vida social, afetiva, emocional, psicológica, cognitiva, educacional e, sim, que isso deve ser revisto, conversado e esclarecido para, quem sabe, desbloquear na família, todo este mal estar e frustrações vinculadas à música.

A seguir: um vídeo oferecido por uma aluna muito especial.





Abraços
Denise


segunda-feira, 8 de julho de 2013

A experiência Não-Musical - Disponível download do capítulo


Basicamente são os estímulos e respostas que não se relacionam de nenhum modo com a música propriamente dita.  São em parte relevantes por organizar o conhecimento sobre o que são experiências musicais e por se tratar de terapia, onde muitas questões não musicais permeiam o campo de atuação. Portanto, o que não são experiências musicais é o que leva a musicoterapia a outros departamentos que não a música, abrangendo o assunto para as áreas da saúde e das ciências humanas e, basicamente o que a define (música + terapia).


Um dos elementos não-musicais, mas fundamental na musicoterapia é o ambiente, tudo aquilo que não diz respeito à música, mas que pode mudar a condição do fazer musical.

Uma das condições são aquelas que preparam o ambiente terapêutico, como por exemplo: pessoas idosas, em alguns casos, apresentam dificuldades de se movimentarem, então é importante uma mesa para colocar instrumentos, uma cadeira para sentar-se. Já no caso de crianças é interessante dispor os instrumentos no chão e deixar espaço para movimento. Em outras circunstâncias é necessário adaptações de instrumentos. Quanto à estrutura da sala, se possível, o piso deve ser apropriado à condução sonora e a sala tratada acusticamente. O preparo da sala estará vinculado aos objetivos e ao público.  Portanto são elementos que se impõe ao paciente e ao processo musical, podendo alterar as respostas frente aos objetivos traçados.

Resumindo: os estímulos não-musicais podem ser considerados à partir do ambiente e da comunicação-verbal e as respostas não musicais podem ser diversas, mas não tendo relação ou significação durante e à partir da música em si.

Sobre este tema me sinto em dívida dada as diversas ramificações e possível profundidade do assunto, não obstante, apresentarei ao longo das próximas postagens questões referentes à este tipo de estímulo e resposta e assim pretendo contribuir com o tema.

Para encerrar o assunto sobre experiências musicais, deixarei o capítulo disponível para downloadReferência: BRUSCIA, Kenneth E. Definindo musicoterapia. 2 ed.Ed. Enelivros, 2000.





quinta-feira, 13 de junho de 2013

Experiência paramusical

ParaMusical: Aspectos do ambiente musical que se impõem ao indivíduo enquanto ele ouve ou faz música e que não se relacionam intrinsecamente com a música e não dependem da música para obter seu significado. Exemplos: 1) pessoas, objetos, móveis, luzes e acessórios do ambiente musical, e 2) dança, drama, trabalhos artísticos, poesia, etc., criados de modo independente da música, mas presentes no ambiente musical.

Olá Pessoal,
Falaremos da experiência paramusical descrita na postagem das experiências e novamente apresentada acima.

Nesta postagem irei citar alguns exemplos da experiência paramusical.

Antes de iniciar quero fazer um comentário de que as experiências musicais descritas pelo autor, muitas vezes não são claras. Isso acontece devido ao resumo de assuntos que requerem uma pré-experiência musicoterapêutica ou artística de quem lê. Isso porque, é difícil entender que numa experiência musical existem tantas dinâmicas ocorrendo, seja da pessoa com a música e do conjunto entre a música e a pessoa, no qual se inclui uma possibilidade de tudo que permeia a existência, ou seja, aspectos subjetivos e concretos de sua existência, como: coisas, pensamentos, sentimentos, valores, estética, profissão, etc.

Vamos aos exemplos:

Recentemente trabalhei em uma casa de repouso com um grupo de aproximadamente 20 idosos. O repertório executado foi selecionado por alguns participantes que, aos poucos, se lembravam de canções da época de sua juventude.

Alguns gostavam de cantar, eventualmente tocar, escutar ou dançar, enquanto outros começavam a falar sobre assuntos que não tinham conexão com a música executada. Muitas vezes essa atitude era vista por outros como falta de respeito à música e alguns chegavam a chamar-lhes a atenção. No entanto, sem o estímulo de aspectos do ambiente musical, estes idosos predominantemente se encontravam em silêncio assistindo à televisão e, mesmo que eles não estivessem concentrados na música, a presença deles trazia mais motivação para os outros. 

Ou seja, o ambiente musical servia como estímulo para a fala, embora esta não se relacionasse com a música e a música, que ao mesmo tempo era estímulo, em alguns momentos talvez até se tornasse inoportuna, ou “estivesse muito alta” (risos).

Assim como, algumas pessoas começam a se concentrar em outras atividades com a ajuda da música.

Por exemplo, o livro Yoga para nervosos do professor Hermógenes, diz que se a música ajuda a meditar poderá colocá-la em volume baixo (sendo uma música calma), mas que aos poucos deverá retirá-la a fim de se aprofundar na meditação.

Em alguns casos, por exemplo, devido a uma dificuldade de concentração, a música poderá (como fundo musical), propiciar melhor interação entre pessoa e objeto de estudo.

Outro elemento citado como estímulo são objetos e iluminação.

O uso de objetos como personagens de desenho animados de brinquedo poderão, em primeiro plano, servir como estímulo para uma criança engajar-se num meio musical. Ou seja, é oferecer um elemento paramusical para que uma criança tenha uma resposta musical.

A iluminação, por exemplo, num ambiente musicoterapêutico pode atrapalhar se estiver excessiva ou escassa dependendo da entonação que se queira dar à música, por exemplo, de modo subjetivo uma música alegre necessita de um ambiente bem iluminado e talvez arejado, com plantas, pássaros. Talvez ao ar livre. Já uma música mais intimista ou que necessite mais concentração, por exemplo, uma iluminação mais baixa, do tipo um abajur ou uma vela, ou às vezes o próprio escuro.

Como primeiro plano, uma atividade de poesia acompanhada de música também pode ser um elemento paramusical, de modo que a música coincida com frases e dramas. Este aspecto é muito semelhante à experiência extramusical, no entanto, nesta última a poesia surge como resposta e não estímulo. Já na experiência paramusical, respostas são, por exemplo, engajar-se em outra atividade.

Outras possibilidades são o drama e a dança em primeiro plano, onde a música coincide, mas, é fundo, tal como no flamenco (dança), onde muitas vezes o conjunto não aparece ou fica em segundo plano.
Embora a dança esteja totalmente vinculada à música, esta responsabilidade não é a do apreciador e, portanto, sua experiência, em primeiro plano, é a dança. Como podemos observar no vídeo 



É importante saber que determinado estimulo pode gerar uma resposta de natureza diferente, ou seja, um estímulo musical pode gerar uma resposta pré-musical.
Ao final das postagens adicionarei o capítulo das experiências musicais. Na próxima, falarei sobre a experiência não-musical.

Ressalto a importância deste tema nas palavras do autor:

"Cada sessão varia de momento a momento, e cada cliente opera em um nível diferente de musicalidade. Algumas vezes é difícil determinar o que o cliente está efetivamente experienciando para se classificar a experiência de acordo com os níveis(...) É importante compreender que a música é uma experiência humana penetrante que nem sempre pode ser reproduzida por estas categorias e além disso, sua utilização na terapia é intensificada ao se aproveitar plenamente a vantagem de sua amplitude. Por outro lado, existe uma vantagem em reconhecer que algumas são mais ou menos intrinsecamente musicais do que outras. Essas diferenças podem orientar o terapeuta no desenvolvimento das experiências do cliente e também servem para lembrar que, embora a musicoterapia envolva todos os níveis de experiências musicais, quanto mais perto a experiência do cliente estiver no nível puramente musical, mais certeza poderemos ter de que se trata verdadeiramente de musicoterapia." (BRUSCIA, Kenneth. Definindo musicoterapia, p. 119)

Até Logo,
Denise